A Ford já havia anunciado em 2018 que concentraria as suas forças na produção de picapes e SUVs, deixando os automóveis de lado, em uma estratégia global. Mas a notícia de que vai encerrar neste ano a produção de carros no Brasil, divulgada nesta segunda-feira (11), pegou todos de surpresa. Os prejuízos são de toda a ordem, indo desde empregos até milhões de reais em impostos que deixarão de ser gerados.
Esta não é a primeira vez que a montadora, no Brasil desde 1919, enfrenta dificuldades no País. Em 1987 uniu-se à Volkswagen, dando origem à Autolatina para reduzir custos através do compartilhamento de plataformas, o que gerou irmãos gêmeos, como Volkswagen Apollo e Ford Verona, Volkswagen Quantum e Ford Royale, apenas para citar dois exemplos. Mas quando a sociedade foi desfeita, em 1996, a filial brasileira quase sucumbiu, pois os modelos que mais vendiam eram os da Volkswagen.
A renovação da linha permitiu à Ford reestruturar-se e, em 2003, um sucesso chamado EcoSport alavancou as finanças e colocou a fábrica de Camaçari a operar em pleno vapor. Mas a mudança de estratégia mundial começou a mudar novamente o jogo. Em outubro de 2019, fechou a unidade de São Bernardo do Campo, onde produzia o Fiesta e os caminhões da série F, deixando 750 desempregados. Em maio de 2020, deixou de importar o sedã de luxo Fusion. Neste ano, serão fechadas as fábricas de Camaçari (Bahia), Taubaté (São Paulo) e da Troller (Ceará). A companhia manterá no Brasil a sede administrativa da América do Sul, o Centro de Desenvolvimento de Produto e o Campo de Provas.
Agora ficam diversas questões pairando no ar. Para o consumidor, a principal dúvida refere-se a uma futura desvalorização acima da média dos carros da marca. Péssima notícia também para os concessionários, que passam a ter um leque menor de veículos.
Lembrando que esta fábrica foi alvo de uma polêmica disputa em meados de 2000, entre o Rio Grande do Sul e a Bahia, que acabou levando o complexo. Uma parcela dos gaúchos nunca se conformou com a ida da Ford para o Nordeste. E foi realmente uma grande perda na época, tanto em postos de trabalho quanto na questão das inúmeras outras empresas que se instalariam ao seu redor para fornecer peças. A montadora acabou condenada anos mais tarde a ressarcir o Rio Grande do Sul em mais de R$ 200 milhões. Porém, caso tivesse ficado, é fato que hoje seriam os gaúchos a estarem se lamentando.